quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Morte de Kadafi põe fim a doloroso capítulo da Líbia, diz Obama

O presidente dos EUA, Barack Obama, disse nesta quinta-feira que a morte do líder deposto da Líbia, Muamar Kadafi, "põe fim a um longo e doloroso capítulo da Líbia". "O regime de Kadafi chegou ao fim", disse, afirmando que "hoje é um dia importante na história" do país. Kadafi se agarrou ao poder por 42 anos até que fosse deposto por sua própria população em um levante iniciado em fevereiro que se tornou uma sangrenta guerra civil.
 

Em pronunciamento na Casa Branca, o líder americano disse que agora a população líbia tem a oportunidade de determinar seu próprio destino. Ele também afirmou que os líbios têm a grande responsabilidade de construir um país tolerante e democrático. "Vocês venceram sua revolução", disse diretamente à população do país do norte da África, afirmando que "a escura sombra da tirania foi levantada".
Obama não confirmou a morte de Kadafi de forma independente, preferindo em vez disso citar que autoridades líbias anunciaram que o líder deposto de 69 anos havia sido morto. Uma autoridade da Casa Branca disse que os EUA obtiveram informações similares por meio de canais diplomáticos e tem confiança nessas informações.
A morte foi confirmada oficialmente pelas autoridades líbias por meio de Mahmoud Jibril, primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão que governa interinamente o país desde a queda do regime. Segundo Jibril, ele foi morto por forças revolucionárias durante a queda de Sirte, o grande último bastião de resistência desde a queda do regime, há dois meses.
Em visita a Islamabad, Paquistão, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, afirmou que, se a informação sobre a morte fosse verdadeira, ofereceria uma "nova oportunidade para mover-se adiante para o futuro". Hillary fez uma visita surpresa a Trípoli nesta semana, quando afirmou que eventualmente ele seria morto ou capturado. Ela ofereceu cerca de US$ 11 milhões em auxílio adicional para a Líbia, aumentando a contribuição de Washington desde o início do levante contra o regime, iniciado em fevereiro, para cerca de US$ 135 milhões.
Previamente, e também sem confirmar oficialmente a informação, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que a população líbia livrou o país de um ditador, aplaudindo o papel dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na campanha de ataques aéreos que ajudou os combatentes a depor o regime. "Nesse caso, os EUA gastaram US$ 2 bilhões no total e não perderam uma única vida," afirmou em Plymouth, New Hampshire.
Reação no resto do mundo
O secretário-geral da Otan, general Anders Fogh Rasmussen, disse em uma declaração: "Depois de 42 anos, o regime de medo do coronel Kadafi finalmente chegou ao fim. Conclamo todos os líbios a pôr de lado suas diferenças e trabalhar juntos para construir um futuro brilhante."
 
O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, afirmou que está orgulhoso do papel que seu país desempenhou na deposição de Kadafi. "Acho que hoje é um dia para nos lembrarmos de todas as vítimas de Muamar Kadafi, daqueles que morreram no voo da Pan-Am em Lockerbie e, obviamente, todas as vítimas do terrorismo do IRA (Exército Republicano Irlandês), que morreram por meio do uso dos explosivos Semtex da Líbia", afirmou, em referência ao ataque terrorista ao voo 103 da Pan-Am em 21 de dezembro de 1988.
O avião, que saiu do Aeroporto de Heathrow, em Londres, com destino a Nova York, explodiu no ar na cidade escocesa de Lockerbie, deixando 270 mortos. O único condenado pelo atentado, o ex-membro da inteligência líbia Abdel Baset al-Megrahi, foi libertado de uma prisão escocesa em 2009 por causa do seu frágil estado de saúde. Ele ainda está vivo e na Líbia. 
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou que agora era o momento para a "reconciliação na unidade e liberdade". Ele disse que os eventos anunciados nesta quinta representam o começo do processo democrático na Líbia.
Mitt Romney, candidato republicano à presidência dos EUA, também lembrou o ataque da Pan-Am, no qual morreu muitos americanos. "Esse foi um tirano que foi morto por seu próprio povo, e, é claro, é responsável por vidas americanas perdidas no ataque de Lockerbie. E acho que o mundo reconhece que o mundo é um lugar melhor sem Kadafi."
Quem também se pronunciou quanto à morte do líder líbio foi o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, que saudou o "fim de 42 anos de tirania" na Líbia. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o mundo deveria reconhecer que "esse é apenas o fim do começo", acrescentando que "agora é a hora para todos os líbios se unirem". Ban ressaltou que "esse é o momento para a cura e a reconstrução" e "não para a vingança".
A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, que está na Angola, último país de seu giro pela África, disse que o mundo deve apoiar e incentivar o processo de transição democrática no país, mas ressaltou que uma morte não deve ser "comemorada". "A Líbia está passando por um processo de transformação democrática. Agora isso não significa que a gente comemore a morte de qualquer líder que seja."
Um comunicado também mais cauteloso foi feito pelo enviado russo à Líbia, Mikhail Margelov, que alertou que a morte de Kadafi não representa o fim dos combates na Líbia. "O problema da Líbia hoje não é se Kadafi está vivo ou morto", disse, citado pela agência de notícias ITAR-Tass. "O problema é consolidar a fragmentada sociedade da Líbia e fortalecer seu Exército."
Kadafi é o primeiro líder morto na Primavera Árabe, onda de movimentos populares que ocorrem no Oriente Médio e no norte da África desde dezembro para exigir o fim de governos autocráticos e mais democracia. Kadafi foi um dos líder mais longevos do mundo, dominando o país por meio de um regime comandado por seus caprichos e atraindo condenação internacional e isolamento durante anos. 

Nenhum comentário: